Mecês, se calhar, inda nunca t'veram em Marmelete, más é um conselh' que l'es dô é q'um dia que l'es faça jêt', passem pre lá.
Nã é pr' ê cá ser aqui da serra, más é um povo bonit'. Tá bem qu'é pequenalho, mái a gente assenta-se ali naquela venda que tá log' à chegada, bebe-se um calcesinho dela com uns amig's bons que 'pareçam, entretem's um belo pôco, quái qu nã s'ôve barulho nenhum e os ar's sã bons.
Inda, D'mingo, ê fiz isso. Tava lá o mê parente Tóino Choça, más o ti Manel do Arroio e, despôs, inda s'ajuntô tamém o compad'e Zé do Alto. Foi um consolo. Cada um mandô vir a su' rodadinha, paleamos, d'ssemos uns dichotes, umas parvoêras e, a mê' da tardinha, cada um abalô p'ô sê monte. Tôd's se tinha governo p'a fazer.
O mê parente usa o méme caminho do que eu até ô apartadoiro p'a Refóias, de manêras que lá viemos os dôs charolando. É qu' aquilo inda se leva quái uma hora désna do povo até ô desvio p'ô mê monte... Pôs, nã deve de ser men's duma légua.
O parente Tóino teve-m' a m'a contar que tem andado p'a lá empeçado com 'ma dor numa perna, des qu'é uma ciética, e nã dá conta daquilo. Já foi ô endrêta, já foi mandar fazer uma benzedura, até um chá de lagrimóina a m'lher já l'e fez. E nada. Até já anda com vontade d'ir ô dôtor...
Des qu' aquilo l'e c'meçô, ontordia, q'ondo teve a mudar p'a lá um pórco de pecilgo, e o marafado embirrô que l' havia de passar pre baxo das pernas. Ora, o probrezinho, q'ondo mal dé p'r isso, tava amontado no bicho e nã demorô nada que nã t'vesse espaldêrado no chão.
Aquil' o pórc ' é o bicho mái tem-môso que há. Q'ond' ele pensand' em ir pr' um lado, leva tud' à frente.
- Parente, atã faça boa viaja a pé até ô Val d'Água, qu' ê desapart'-me aqui p'ô mê caminho.
- Vá com Dés, parente, e dê lá rec'mendaçõs à prima Maria, fazendo favor - Respondé-me ele.
- Sarã entregues de boamente.
E, inda bem não, cada um já lá ia p'a sê lado a pensar no g'verno qu' inda tinha p'a fazer entes da cêa. Qu' ê, tamém, agora, só tenho p' ali um pórco p'a tratar e mêa-dúiza de coelhos. A galinhas, quem trata é minha Maria.
Tó, diacho, atã e já m' esquecia do mê Jericó. Tamém tenho que tratar dele qu' aquil' é um burro de estimação...
Com isto tudo, ia tã descudado que nã dí pr' o Sol de pôr e já tava lusco-fusco. Nã tinha levado alenterna, vô ali prê-abaxo, já a chegar ô pé da Casa Velha, embico num rabôlo que tava no mê da carrelêra, dô dôs passos em falso, pensí:
- Vou bater a àpèrája...
E nã faltô nada. Vá lá, que tav' ali um madronhêro com uma pernada pendida p'ô caminho, foi a minha salvação. Agarrí-me a ela, pr' ali me sigurí de qualquer manêra, mái, méme assim, inda rocí com uma canoira num tanganho de mongariça, que p' ali tava, e fiz um golpe aqui na barriga da perna, salvo seja.
Doé-me um coiséco, má' isso nã foi nada. O pior é qu' arrompi as calças do D'mingo e pensí mo qu' ê tinha qu' ôvir da minha Maria:
- E nã tens cudado nenhum... E agora, D'mingo c'm' é que vás missa?... E ê que já nã vejo p'a dar uns pontos nisso... E toma àbaxo e toma àcima...
E ê cá, despôs, falta-m' a pacência e tenho de fazer de conta que tenho munto serviço, qu' inda tenho qu' ir b'scar palha ô sobrado pô Jericó, milho à casa de despêjo p'a dar ô pórco e uma cevada-avêa p´ôs coelhos, qu' assim já nã tenho qu' a ôvir. Qu ê sô amigo dela, nã pensem...
Bom, mecêas sã boas pessoas, mái isto, p'r hoje, já tá bem bom.
Q'ondo lerem isto, nã s' desqueçam de escrever aí, seja o que for, nos c'mentáiros, que vomecêas inda nã escreveram coisíss'ma nenhuma e o Parente da Refóias, assim, fica desmarrido pensando que ninguém l'e liga.
Toca a andar... Digam qu' isto qu' é munto advertido, que gostam munto e más esta e más aquela... e tal e coisa...
Ó atã, digam log' a verdade e pronto.
É qu' ê bem vejo que vocemecêas, q'ondo calha, vêm ver isto. Qu' aquilo ali já resista p'ra cimba dum cento de v'sitas.
De manêras que, Dés l'e dê saúde e até ôtro dia.
Tenho estado a ler e estou encantada por encontrar certas palavras que só em Monchique ouvi e que por não as ouvir diariamente já me vou esquecendo. Grande blog, continue a escrever que eu vou passando por cá para ir lendo, pois tou a gostar imenso e já dei por mim, sozinha aqui, á gargalhada.
ResponderEliminarEu gostei de lembrar como as pessoas falavam antigamente.
ResponderEliminarja se ouve pouco falar assim
ou entao pouco se ouve.
Continua pois esta muito bom parabens...
Parente, pôs é cá tamém tou dacorde que Marmelete é um pove enteressante e nos últemes anes tem-se desenvolvide um pedaceco.
ResponderEliminarÉ conhece munta gente de lá, prencipalmente os más velhes, pôs qondo era novo mori pa lá páqueles serres, em vairas casecas...Era quás uma em cada ane, o parente deve saber côme era os pobres daquela altura.Más até é quás vergonha dezer que nunca fui à capelinha de Sant'Antóino, tenhe darrejar um becadeque de tempe pa ir dar um passêo lá, assim qué ter jeite vou até lá.
O qué cá tive munta mágoa foi de ver aquile quondo foi dos encendios. Vim daprepósite de Portmão, passande pla Perêra a assubir aquela serra na minha Zundap qaté urrava e aquilo era tude uma dó d'alma, tude prete e até as pedras tinham arrebentade com o calor do fogue e atã Marmelete parecia uma terra assombrada. Até é melhor nã m'alembrar, que se me corta o coração e fique com os olhes chês de lágremas.!!
Ainda bem que o tempe nã tem ido munte quente este Verão e choveu alguma coisinha com jêto, a ver se temes sorte e nã ase quemam as nossas terrinhas, senã vai ser outra desafortuna.
Boa nôte e druma com os anjes, mé amigue
O Campaniço