Estes dôs dias passados, nã l'es disse nada. Mái nã foi p'r mal e ê vô-l'e já d'zer o perquém.
Alembram-se qu' ê, na Sexta-Fêra, tinha 'tado de cozedura más a minha Maria? Pôs nã l'es dô encar'cido com-m'à gente tinh'ô corpo, à nôte, q'ondo se foi p'à cama...
Aquilo foi a cozedura, foi que s' andô lá nos cantêros, na bésp'ra, de roda da terra p'a samear umas bejoarias e metade de mê cantêro de batatas, carregar esterco, abrir regos, pôr a semente e o amóino... E s'bir e d'cer aquelas escalêras nã sê q'ontas vezes ô dia?... A gente já nã tem idade p'a isto, hóme...
E atão, na cama quem é que dava d'rmido? Era dores p' aqui, dores p' ali, ê impava dum lado ela impava dôtr', voltas e más voltas... Até qu', às tantas, aí pr' umas três, três e mêa da manhã, sim , nã havera de ser más qu' o galo Gargaludo inda nã tinha c'maçado a cantar, ê volt'-me p' a ela e digo:
- Ó, Maria, mái atã dói-te alguma coisa? Nã paras soss'gada na cama... - Ist' era p'a meter conversa, que más via ê cá qu' ela tamém 'tava toda descanècada.
- Ó, homem, tenho p' aqui uma dor nas cruzes que nã me passa, nã sê s' isto foi jêto qu' ê dí, s'o qu' é que foi.
- Olha, tamém ê béque-me 'tô pior do mê flate. Agora, até já m' apanha aqui a ponta deste ombro.
- Isto é da gente andar aí tã mort'ficados naqueles cantêros, qu' a gente já nã se tem idade p'a isto. E tamém nã tem's falta, graças a Dés... - Respondé-me ela, já um coisinho marafada p'r ca'sa d'ê a obrigar a ir p' à horta com-migo.
F'quí um pôcachinho a pensar, a pensar... e dig'-l'e:
- Atã e s'a gente fosse ô end'rêta dos Perêros?... Ch'mava-se um carro de praça, ia-se logo de manhã, bem cedinho, q'ondo vinha p' ô lado do mê-dia, 'tava-se cá.
- Isso custa uma preção de d'nhêro!... E isto, tamém, nã tem jêto de ser desmancho nenhum. Ist' é coisa p'a se fazer aí uma mèzinha com água das malvas e, calhando, passa.
- Éh'q... Nã l' acho munto jêto...
Lá se 'teve p' ali, más um belo pôco, amalhados os dôs.
Já o Gargaludo cantava, más inda nã tinha amanhecido bem, dí um salto da cama. Pensí: - Vô-me jogar p' aqui uma chapada d' água p' à cara, tratar dos animazes, panhar uma ervinha p' ôs coelhos c'merem à tarde, e, q'ondo a m'lher 'tar despachada do g'verno da casa, samêa-se mái uns três ó quatro quadros de batatas, e logo se vê. E lá fui.
'Tava ê quái p' a abalar p' ôs cantêros p'à apanhar a erva, oiço um carro a urrar ali p'r cima. C'm' quem nã quer a coisa, fui até à quina da casa, pus-me a devassar, vejo qu' era o filho do mê compad'e Jôquim, o Zé Manel.
Pensí: - Ess' é boa... Entes, nã par'cía cá, agora é tôd's Sáb'dos e D'mingos?!... - Mecêas já alcançaram p'r qual a r'zão, nã é verdade? Põs é isso méme. Com a presunção de m'strar o carrinho novo, é um correpio a caminho daqui. E, más a más, qu' ê tem-me par'cido qu' ele anda com o olho na moça da ti Zabel, a Cilinha, que mora logo além más pralàzinho...
Más ele até qu' é bom m'cinho e s' ela que calhar com ele vai bem. E é um belo amigo. Nã tenho n'nhuma r'zão de quêxa.
Ê p' ali me descuidí, ele lombrigô-me, logo, de lá de dentr' do carro. Nem virô p'à casa do pai, vem d'rêto a mim:
- É parente, atã que tal vai isso? 'Tá aí todo desasado desse lado?
- Tenho p' aqui um flate... 'Té já pensí em ir ôs Perêros, qu' a minha Maria tamém 'tá p' ali mal, mái ela nã quer ir... D's que nã tem via e um carro de praça sai munto caro. Olha tu é que podias ir com a gente qu' ê pagava-te a gasolina, que dizes?
- Só se já!...
- Hoje nã, mái, amanhã, se 't'vesses por' í, dava jêto.
E a coisa f'cô assim. Nem vai-se, nem nã se vai, ele voltô p' à do pai e ê fui ô mê g'verno.
Q'ondo voltí, pus-m' a tramelar com a minha Maria, más ela ôs P'rêros ninguém a faz ir. Nã gosta da manêra qu' o homem faz aquilo. P'a falar verdade, ele, uma vez ó ôtra, descuda-se. Põe o joelho nas costas duma pessoa e dá com cada estanazão qu' a gente até vê luzes...
- Bom, atã se nã queres ir ô endreta, o qu' é qu' a gente resolve? - Diss'-l' ê cá, assim de rijo.
- Munto sê eu!... - Respondé ela, devagarinho, c'm' quem quer acabar a conversa.
- Atã assim, que tal a gent' ir à Fonte Santa? É mái perto, tomava-se lá um banho naquela água e trazia-se dôs ó três garrafõs dela p'à gente s' ir amèz'nhando...
- Tamém 'tá bem.
- Atã vô falar com o Zé Manel.
Mái tarde, ê já l'e conto o resto, qu' agora tenho qu' ir panhar um fêxe de ferrêjo p'a dar o mê Jericó, que já 'tá p' ali a zurnar.
'Té mái-logo.
Atão té mai-logo :)
ResponderEliminarParente, pôs desculpe-me más vou-le desplicar uma cousa, o home dos Perêres, que ultemamente já nã era o premêro(o pai), má o flhe, que tamém já é velhe e dizem que n'é tã bom, já nã tá no méme síto. Comprou uma morada de casas em grande, no Cercal, e mora lá já vai pa uns três ó quatr'anes. É logue no prencipe da terra pa quem vai do lado do sul, numa ladêra pra cimba, munto empinada.
ResponderEliminarMás nã se desqueça, qus bamhes da Água Santa sã do melhor qui há, entranram foi em desudo e aquele abandone é uma dó d'alma...
Passe um descansado fim de somana e veja lá s'arrenja uma boa estóira pa contar à gente, que cá tamos à espera...
Agora alembri-me: até pudia de ser o desfile de moda, em Portemão, na Alamêda. Contarem-me qu'é entrada à borla e já viu o que era a gente aqui, na serra, peder ver os retrates daqueles
manequins, vestides, ó melhor quás despides, com aquelas lindas vestes
Um abrace
O Campaniço
Errata: Onde tá "desudo", lêa-se "desuso".
ResponderEliminarObrigado
O Campaniço